O Estado de Gaza
Origem
e desenvolvimento
O M’fecane foi o processo de lutas e de
transformaçoes politicas, seguidas de grandes migraçoes de populaçoes Nguni
para o norte, ocorridas na zululandia (actual África do sul), a partir da
segunda metade do século XVIII a princípios do século XIX.
As razoes que explicam
este fenómeno foram, entre outras, as seguintes:
·
As lutas pelo controlo das rotas
comerciais com a baía de Lourenço Marques. Era partir deste ponto que os
Ngunis estabeleciam o contacto com o mundo exterior, exportando marfim e
importando missangas, tecidos, lingotes de latao e armas. Dai os conflitos
entre linhagens;
·
A crise ecológica ocorrida na regiao nos
finais do século XVIII e princípios do século XIX. Esta crise provocou a falta
de terra e pastagens, o que, de certa forma, contribui para as lutas pelo seu
controlo.
Por volta de 1770,
existiam na zululandia vinte reinos que disputavam entre si o controlo das
rotas comerciais coma baía de Lourenço Marques, bem como o domínio de terras
férteis e pastagens.
Entre 1810 e 1821, estes reinos ficaram
reduzidos a dois: o de Nduandue (chefiado por Zuide); e o de Mtetua (chefiado
por Dinguisuaio). Conflitos entre dois reinos culminaram com a captura e morte
de Dinguisuaio pelas forcas leais a Zuide. Tchaka, o zulu, decide vingar a
morte do seu pai adoptivo (Dinguisuaio), perseguindo Zuide e seus amigos ate as
ultimas consequenciais. Uma dos nduandue derrotados submete~se a tchaka, e outra
Entre os fugiram contam₋se:
·
Zuangedaba,nqaba msane e nguane maseko,que
por algum tempo se fixaram no interior de moçambique. E assim que, por volta de
1890, estados dominados por descendentes de maseko e zuangedaba incluiam
territorios moçambicanos do Niassa e Tete;
·
Mzilikaze I,que se fixou no território
do actual zimbabwe;
·
Sobhuza,fixado na swazilandia;
·
Sochangana (manicusse), que se fixou no
sul de moçambique, onde formou o Estado de Gaza.
O Estado de Gaza, com capital em chaimite, resultou da conquista do sul de moçambique por exércitos nguni, chefiados por sochangana, o manicusse (1821 – 1858). Combinando a estratégia da guerra de conquista com a política de assimilação das populações autóctones, sochangana criou os alicerces de um novo território, que, na sua extensao máxima, abrangia as regiões situada entre a baía de maputo e o rio zambeze. Com a sua morte em 1858, sucede – lhe o seu filho Maueue. Uma vez no trono, Maueue hostiliza os seus irmãos, em particular Mzila, reinos vizinhos e comerciantes que estavam interessados no comércio do marfim. Estes, por sua vez, dirigidos por Mzila e contando com apoio de alguns membros da aristocracia nguni, de comerciantes de Lourenco Marques e do Governador de Lourenço Marques, Onofre de Andrade, organizam uma coligacao que vence maueue (1861-64).
Mzila, empossado como o
novo Inkosi, procura novos aliados, estabelecendo relacoes com o Natal e a Grã
– bretanha. Morre em 1884 e a sucessao do trono e disputada por tres dos seus
filhos: Mafemane, Mundungawe e Como – como. Mundungawe leva a melhor e adopta o
nome de Ngungunhane, o «invencível».
1821–
1858
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Sochangana
forma o Estado de Gaza.
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1858–
1854
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Maueue,
filho de sochangana, herda o poder de seu pai, mas entra em conflito com
outros membros de aristocracia nguni.
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1861–
1864
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Coligação
formada por parte da aristocracia nguni, por Magudzu Khosa, chefes tsonga,
populacoes (principalmente do vale do Incomati) e alguns comerciantes de
marfim que apoiam Mzila na guerra com o seu irmão Maueue.
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1862
|
A
capital de Gaza e transferida no decurso destes conflitos para o Mossurize
(Manica).
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1864–
1884
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Mzila
e chefe do Estado de Gaza. Durante o seu governo, importantes transformacoes
económicas ocorreram: os Elefantes começaram a rarear, a principal forca de
trabalho procura emprego na África do sul e o Estado de Gaza integra – se na
economia monetária.
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1884–
1895
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Ngungunhana,
filho de Mzila, herda o trono do pai, tornando –se no ultimo chefe do Estado
de Gaza.
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1889
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A
capital e novamente transferida para Manjacaze: o vale do limpopo e as zonas
vizinhas tinham todos os recursos que escasseavam em Mossurize e procurava –
se evitar pressoes de Manica, onde britanicos e portugueses desejavam comecar
a mineracao do ouro.
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A
organizacao politico – administrativa
A conquista e
administração de um território tao vasto como este foram possibilitadas por uma
política de assimilação praticada pelos nguni, através da qual alguns elementos
das populacoes conquistadas foram integrados em regimentos nguni e, mais tarde,
serviam como funcionários no exército e na administração territorial.
Populacoes do vale do limpopo e os Cossas de Magude foram integrados como
assimilados em bloco, razao pela qual são ate hoje conhecidos como changana
(súbditos de sochangane).
FUNCIONAMENTO
A capital, onde residia
o monarca Inkosi, acumulava funcoes políticas,
militares, judiciais, economicas e religiosas. Além da capital suprema onde
vivia o Inkosi, tinham tambem importancia administrativa e, sobretudo, ritual
as capitais sagradas onde viviam as rainhas – viuvas ligadas ao culto nacional
dos falecidos monarcas.
O imperio subdividia –
se em reinos, a frente dos quais estava o Hossana, responsavel pela cobranca dos
tributos, distribuicao deterras, resolucao de litigios, mobilizacao de
regimentos, etc.
Os reinos subdividiam –
se em povoacoes, dirigidas por um Induna.
As provincias, por seu turno, subdividiam – se em povoacoes, dirigidas por
um Mununusana.
A administracao
territorial do Estado de Gaza fazia – se atraves do «sistemas de casas», como
eram chamadas as areas tributárias em que foi dividido o Estado.
IMPERIO
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Reinos
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Provincias
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Povoacoes
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A
organizacao socioeconomica
Várias camadas são
identificadas neste Estado. No topo da hierarquia social estava a alta
aristocracia (reis e seus familiares); logo a seguir, a média aristocracia
(outros nguni que não fossem da linhagem real). Estes constituiam a classe
dominante aliada aos «assimilados» (elementos da populacao dominada já
integrados na estrutura social nguni). Em baixo estavam as populacoes
denominadas que, independentemente do seu grupo etnolinguistico, eram
designadas po Tonga.
Fonte economica do poder dos chefes
Além do pagamento de tributos em generos agricolas, as populacoes dominadas entrgavam aos Nguni outros tributos em marfim e em dinheiro (libras), ganhos na africa do sul com o início do trabalho migratorio para aquela regiao. Os cativos tambem constituiam outra fonte de riqueza para os Nguni: trabalhavam nas unidades domésticas destes. Soldados e mensageiros nguni eram alimentados pelas populacoes.
Como podes verificar, existira uma grande diferenciação social: no topo estavam os membros de linhagem real; a seguir, os mabulundlela, os ndau, os tongas, os tinhloko e, por fim, os membros das chefaturas subjugadas.
Actividades económicas
As principais
actividades produtivas no Estado de Gaza eram a agricultura (cultivo da mapira,
mexoeira, naxemim e milho grosso), a caca e a pesca, que eram realizadas pelas
populacoes dominadas, tanto para o seu sustento como para o pagamento de
tributo a classe dominante.
Também praticavam a
criação de gado e o comércio (exportação de marfim e escravos, importação de
tecidos, artigos de ferro e cobre).
Ideologia
Os cultos e outros
rituais eram oficiados pelo rei, pois, entre os ngunis, o exercicio do poder
real não estava dissociado do exercicio das cerimónias magico – religiosas.
Existiam cultos agrarios (Nkwaya); os destinados a «dar forca» aos homens que
partiam para a guerra (Mbengululu) e os de invocacao da chuva, entre outros.
O Nkwaya funcionava
como uma valvula de escape das tensoes sociais e era o garante da unidade e da
prosperidade do Estado de Gaza.
Decadência
A necessidade de
«ocupação efectiva do território», determinada pela conferencia de Berlim, o
único facto que , a partir dai, legitimaria a posse dos territorios em africa,
levou portugal a iniciar as campanhas de pacificação no sul de moçambique a
partir de 1895, tendo como alvo principal o Estado de Gaza.
A superioridade dos
portugueses e a falta de unidade entre os chefes do sul de moçambique
contribuíram para a decadência do Estado de Gaza. Mouzinho de Albuquerque,
governador do distrito militar de Gaza, foi o responsável pela prisão de
Ngungunhane (este morre exilado nos acores, em 1906).